Porque é que o primeiro festival de fotografia árabe de Paris é tão importante
"Os atentados de Paris mudaram o que se fala", diz Ella Graf, que faz parte de um grupo de estudantes alemães em intercâmbio no Institut du Monde Arabe (IMA), um dos dois principais locais da Bienal. "A arte já era uma parte importante da nossa estadia em Paris, mas agora esta exposição é ainda mais interessante para nós, e a fotografia é uma óptima forma de aceder a este mundo."
A Bienal de Fotografia Contemporânea do Mundo Árabe, que se realiza principalmente no IMA e na Maison Européene de la Photographie (MEP), apresenta trabalhos de mais de 50 artistas que trabalharam no mundo árabe desde o início do milénio. Após os atentados de 13 de novembro, que causaram 130 mortos, as mesquitas da Europa e dos Estados Unidos foram vandalizadas e muitos muçulmanos receiam represálias. Mas, para outros, a catástrofe foi uma oportunidade para aprender mais sobre o contexto do Médio Oriente.
"No Facebook, as pessoas falavam muito sobre como, depois dos ataques de Paris, toda a gente mudou a sua fotografia para a bandeira francesa, mas que os meios de comunicação social ignoraram a bomba que explodiu em Beirute apenas alguns dias antes", acrescenta outra estudante, Tatjana Wahjudi, examinando uma paisagem urbana gigante de Beirute, da autoria de Joe Kesrouani.
"Talvez seja porque todos nós conhecemos Paris, mas só temos uma impressão abstrata do mundo árabe. Aqui, talvez possamos ter uma ideia melhor".
Para além dos clichés
A artista libanesa Caroline Tabet, que se mudou para França durante a guerra civil do seu país natal e regressou a Beirute em 1994, mostra a sua série Perdre la Vue (Perder a visão), de 2010. Trabalhando com película que tinha sido involuntariamente exposta a raios X, as suas fotografias etéreas também se centram na lenta mutação e desaparecimento da cidade por falta de planeamento urbano.
"Esta Bienal mostra o mundo árabe em todas as suas várias identidades, quer linguísticas quer culturais; para além dos clichés. Há o impacto da política no trabalho, mas não só", afirmou Tabet.
O artista palestiniano radicado em Berlim Steve Sabella, que afirmou que a arte era a sua "viagem em direção à liberdade", está exposto no IMA. A sua série "38 days of Re-collection" inclui fotografias impressas em fragmentos de tinta recolhidos na Cidade Velha de Jerusalém, examinando o tema das antigas casas palestinianas agora ocupadas por israelitas.
"A arte dá-nos pequenas doses de consciência e, quanto mais doses recebermos, mais informados ficamos sobre o nosso mundo e os sistemas que o gerem", diz Sabella. "Ai Weiwei é um exemplo claro da consciencialização que tem suscitado a nível mundial sobre as injustiças vistas pelos seus olhos".
Mais importante do que nunca
A série "Moroccans", da fotógrafa franco-marroquina Leila Alaoui, mostra a diversidade cultural dentro das fronteiras marroquinas. Acredita que, atualmente, a Bienal desempenha um papel mais importante do que nunca. "É uma visão de múltiplas perspectivas sobre o mundo árabe", afirma.
O artista Mohamed Abusal, residente em Gaza, está de visita a Paris para expor "Shambar", uma série de fotografias que tirou à noite na Faixa de Gaza. Concorda com Alaoui e diz que a exposição tem sido tão importante para os colegas artistas como para o público.
"Estamos isolados do mundo. Como artistas, precisamos de nos mexer, precisamos do feedback e das críticas das pessoas", diz Abusal. "Precisamos de visitar galerias, museus e estar na rua, não basta ver arte na Internet."
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Fonte: edition.cnn.com