"Panem" sem Jennifer Lawrence - será possível?
Passaram mais de dez anos desde que "Os Jogos da Fome" se tornou um sucesso no cinema - e com ele, a atriz principal Jennifer Lawrence. Agora, "The Ballad of Songbirds & Snakes" chega ao grande ecrã como uma prequela. Nova era, nova história, novo elenco. Será que vai resultar?
O ano é 2012 e "Yolo" ("Só se vive uma vez"), "FU" (de "Fuck You") e "Yalla!" acabam de ser eleitas as três palavras juvenis do ano. E, no cinema, "Breaking Dawn - Até ao Fim da Noite, Parte 2" acaba de encerrar de forma descarada a série de filmes "Crepúsculo", que há anos arrebatava os miúdos. Mas isso não importava: com "Os Jogos da Fome", o próximo "teen kitsch" já estava à espera nas asas. Ou assim se pensava.
No entanto, a série centrada nos brutais "Jogos da Fome", numa paisagem distópica do pós-guerra chamada Panem, não tardou a provar que todos estavam enganados. A saga, baseada nos romances da escritora norte-americana Suzanne Collins, não só tinha o potencial de deixar os adolescentes a arfar de excitação. Era o cinema de fantasia à la bonne heure, que também conseguiu inspirar espectadores para além da idade dos aparelhos. Só na Alemanha, mais de dois milhões de pessoas compraram bilhete para a estreia da série de filmes. Para o final, "Mockingjay, Parte 2", mais de quatro milhões de pessoas acorreram às salas de cinema.
A série foi tão inovadora porque Jennifer Lawrence, no papel de Katniss Everdeen, encarnou de forma tão convincente a Amazónia com o arco e a flecha? Ou terá sido o sucesso da saga que, de repente, impulsionou a atriz de tal forma que ela ganhou o seu primeiro Óscar em 2013, com apenas 22 anos? Não por "Panem", claro, mas por "Silver Linings". O espetáculo de fantasia foi deliberadamente ignorado pela Academia. Mas, de alguma forma, Lawrence não podia ser ignorada.
Em destaque: Coriolanus Snow
Lawrence não está no filme "The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes", que está a ser lançado nos cinemas oito anos depois de "Mockingjay, Part 2". Afinal, trata-se de uma prequela que se passa algumas décadas antes dos acontecimentos que envolvem Katniss Everdeen. No entanto, a longa sombra de Everybody's Darling in Hollywood paira sobre o filme. Centra-se no jovem Coriolanus Snow - e, portanto, no homem que, como ditador de Panem, irá mais tarde infernizar a vida da personagem interpretada por Lawrence.
Enquanto Donald Sutherland, um ator veterano com um longo historial de viagens, se adaptou ao papel do envelhecido Snow, em "The Ballad of Songbirds & Snakes" o estreante britânico Tom Blyth interpreta o jovem futuro presidente. Enquanto Snow continua a ser um aspirante a estudante de elite no Capitólio, já existem os "Jogos da Fome". O que é novo, no entanto, é a ideia de dar aos tributos um mentor na sua luta pela vida e pela morte. Não é por acaso que Snow tem de tomar sob a sua alçada a flor de parede Lucy Gray Baird (Rachel Zegler), do Distrito 12 - Dean Casca Highbottom (Peter Dinklage) tem pouco amor por ele e pela sua família.
No entanto, como uma carreira no Capitólio acena para o mentor do tributo bem sucedido, Snow faz de tudo para preparar os seus protegidos para a batalha na arena e garantir a sua sobrevivência lá. Para o efeito, recorre por vezes a um truque ou outro, por exemplo, quando deixa que a Dra. Volumnia Gaul (Viola Davis) o inicie nas armadilhas que ela concebeu para os tributos. Isto não acontece sem consequências, nem para ele nem para Lucy Gray, por quem se sente cada vez mais atraído...
Três capítulos, um filme
A história está dividida em três capítulos - desde o caminho para os "Jogos da Fome" até aos próprios jogos e aos acontecimentos posteriores. A realizadora Frances Lawrence, que não é parente de Jennifer Lawrence por sangue ou casamento, está agora ao leme de "Panem" pela quarta vez. Depois de se ter arrependido de ter realizado "Mockingjay" em duas partes, não quis obviamente voltar a cometer o mesmo erro. Por isso, juntou todo o enredo de "The Ballad of Songbirds & Snakes" num só filme com cerca de duas horas e meia de duração - apesar de a edição alemã do romance ter cerca de 200 páginas a mais do que aquela em que se basearam as duas partes de "Mockingjay".
Dramaturgicamente, o resultado é bastante impressionante. A narrativa é densa e rigorosa, sem ser apressada. No entanto, "The Ballad of Songbirds & Snakes" tem dificuldade em acompanhar os seus antecessores, apesar de, ou talvez precisamente porque, a prequela faz pleno uso de alguns dos critérios de sucesso anteriores.
Desta vez, há mesmo muita cantoria na Panem apocalíptica. A canção "The Hanging Tree", de "Mockingjay, Part 1", por exemplo, que saiu dos cinemas e entrou nas paradas de sucesso em 2014, ganha vida própria. E de forma quase excessiva. Não há dúvida de que Peter Dinklage - tal como o falecido Philip Seymour Hoffman em filmes anteriores - é um grande ator. Mas talvez já tenhamos visto o suficiente do seu papel como um adolescente duvidoso desde "Game of Thrones".
A tarefa ingrata de Rachel Zegler
No entanto, a tarefa mais ingrata de ser comparada com Jennifer Lawrence cabe a Rachel Zegler. Por mais sedutora que seja a aparência da cantora e atriz que se tornou famosa com "West Side Story", de Steven Spielberg, ela não tem nem de perto a profundidade emocional da sua antecessora no papel de heroína. E parece que, por enquanto, não terá outra oportunidade de o fazer. Apesar de "The Ballad of Songbirds & Snakes" oferecer uma série de pontos de partida para uma sequela - Suzanne Collins ainda não a escreveu.
Mas, por outro lado, isto também significa que, mesmo que Lucy Gray e "A Balada dos Pássaros e das Serpentes" não consigam igualar as histórias sobre Katniss Everdeen, o filme continua a ser obrigatório para os fãs de "Panem". Quem sabe se e quando haverá outra reunião.
Fontewww.ntv.de