- "Os mortos não magoam": Mulheres contra os masoquistas armados
Viggo Mortensen é um ator, músico, roteirista e, desde 2020, também diretor - preferindo fazer tudo ao mesmo tempo. Após seu estreia como diretor em "Caindo", seu último grande obra, "Os Mortos Não Doem", agora está em cartaz nos cinemas.
Em "Os Mortos Não Doem", o astro de "O Senhor dos Anéis" Viggo Mortensen interpreta o imigrante dinamarquês Holger, que se apaixona pela misteriosa Vivienne Le Coudy pouco antes do início da Guerra Civil Americana.
Vicky Krieps entrega uma atuação de destaque
O filme se passa em 1860 e é aparentemente um faroeste, mas no seu cerne é sobre uma mulher forte navegando em um mundo dominado por homens, magistralmente interpretada por Vicky Krieps ("Corsage").
Temas fortes do filme incluem solidão, contenção e desejo de amor - sem auto-sacrifício. Logo que Vivienne começa um relacionamento com Holger, embora cautelosamente, ele toma uma decisão fatal: ele se junta à Guerra Civil. Vivienne fica para trás, brava e desapontada. Deixada por conta própria, ela deve se defender contra homens que acreditam no direito dos fortes e não têm medo de usar violência ou mentiras.
Mortensen leva seu tempo
Mortensen, que também escreveu o roteiro, conta a história com empatia, emoção e muitos momentos poéticos. Ele leva seu tempo desenvolvendo a narrativa e dando profundidade aos personagens. Tanto Holger quanto Vivienne carregam segredos e feridas antigas que queremos explorar.
Mas os outros personagens também são intrigantes, como o vilão Weston Jeffries, convincentemente interpretado por Solly McLeod. Ele é o filho do homem mais rico da cidade e se sente como o rei não coroado. Bebendo, lutando, atirando em pessoas - ele acredita que pode se safar de qualquer coisa. Quando Holger desaparece, ele coloca os olhos em Vivienne. Ele a quer, por qualquer meio necessário.
McLeod interpreta ele como um macho com uma alma vulnerável. É um papel complexo para o jovem de 24 anos, mas ele acerta. Uma cena em que Weston é posto em seu lugar pelo pai o ajudou a se conectar com o personagem. "Você vê que Weston mostra uma certa vulnerabilidade ou fraqueza, e ele não é mais o mais forte, isso realmente me ajudou", diz o jovem ator.
Papeis cuidadosamente elaborados
Mesmo papéis menores, como o pianista do saloon que é bom demais para o lugar, são meticulosamente elaborados por Mortensen. "Você poderia fazer um filme inteiro sobre Claudio", ele diz. "Ele é bom demais para tocar esse velho piano nesse saloon por tanto tempo". Foi amor? Ele tem uma esposa e filha, e sua família se torna um importante apoio para Vivienne.
No final, "Os Mortos Não Doem" é um complexo mosaico de histórias sobre sonhos, esperanças, decepções, medos, feridas, sede de poder e alegria na crueldade. Nada é garantido, o filme nos diz. Paz, amor e felicidade devem ser conquistados, e nem todos têm um final feliz, nem mesmo Holger.
A trilha sonora do filme é composta por Mortensen.
O filme, predominantemente filmado em Durango, México, encontra palavras poéticas e imagens impactantes para sua história muito humana. A música, composta e tocada principalmente por Mortensen no piano, também é lindamente feita, inspirada na época.
Mortensen relata que a música foi criada muito antes do início das filmagens. Ele a tocava no set para os atores durante cenas específicas para transmitir o clima que queria. "Eu queria que a música parecesse parte da história, não distraindo dela", diz ele.
Pode-se traçar paralelos com hoje, como o relacionamento dos homens com suas armas ou os personagens sedentos de poder usando mentiras e intrigas. No entanto, Mortensen insiste que essa não foi sua intenção. "Como diretor, eu não preciso dizer que quero transmitir uma mensagem. Estou apenas tentando contar uma história", ele explica.
"Mas se você contar uma história bem, com bons atores que fazem você acreditar que seus personagens são pessoas reais com problemas, desentendimentos, conflitos e obstáculos, então é claro que você vai compará-los ao seu próprio tempo."
No auge de seu relacionamento florescente, Holger confessa a Vivienne, "Eu te amo", expressando seus profundos sentimentos antes de se juntar à Guerra Civil. Apesar de sua ausência, Vivienne permanece resiliente, declarando, "Eu também te amo, e eu vou sobreviver a isso".