Após três anos desde a queda de Cabul, esta atleta paralímpica pretende motivar as mulheres em todo o mundo desafiando as normas.
Esta é uma data significativa marcada na história do país, o dia em que o Talibã retomou o controle de Cabul, levando a milhões de afegãos a evacuarem.
Desde que o Talibã retomou o poder, leis restritivas foram implementadas em todo o país. Essas leis afetaram desproporcionalmente as mulheres afegãs, que agora estão proibidas de frequentar a escola e não podem sair de casa sem um acompanhante homem.
Agora, três anos depois, Khudadadi tem a sorte de morar em Paris, França. Embora a distância entre Paris e Cabul possa parecer grande, os eventos no Afeganistão ainda são uma preocupação constante para ela na véspera de participar dos Jogos Paralímpicos de 2024.
Em duas semanas, Khudadadi está prestes a participar do evento feminino de taekwondo K44 de 47 kg. Ela acredita que esses Jogos Paralímpicos lhe oferecem uma oportunidade de fazer a diferença na vida daqueles que ficaram para trás.
"Esta é uma chance de inspirar", diz ela. "Para mostrar às mulheres e meninas que elas são mais do que o Talibã as retrata. Para provar que as mulheres afegãs são fortes e podem alcançar feitos notáveis."
Estreia paralímpica notável
Apenas uma semana após fugir de Cabul, Khudadadi se viu em Tóquio, Japão, fazendo sua estreia paralímpica e quebrando vários recordes no processo.
Sua primeira aparição paralímpica em 2021 a tornou a primeira mulher a representar o Afeganistão desde os Jogos Paralímpicos de Atenas em 2004 e a primeira mulher afegã a competir em taekwondo nos Jogos Paralímpicos.
Devido ao fechamento de todos os aeroportos internacionais, Khudadadi não conseguiu inicialmente escapar do país. Ela foi forçada a se esconder e não pôde treinar ou sair de casa. A situação piorava a cada dia. Ela lançou um vídeo viral pedindo ajuda, que acabou levando-a a ser incluída na lista de evacuados da Espanha e transportada em segurança pela Força Aérea Australiana.
"Fui informada de que, se ficasse, o Talibã viria me buscar porque eu era uma atleta feminina que desafiava suas regras", ela lembra. "Não tinha outra opção além de partir."
Rumo aos Jogos Paralímpicos de 2024
Embora a frase "competir por mais do que medalhas" seja um refrão comum de muitos atletas, quando Khudadadi diz isso, é difícil não acreditar nela.
"Passei por muito para chegar até aqui. Todos os perigos que enfrentei, do Talibã, dos postos de controle armados e pior ainda. Agora que estou aqui, usarei a plataforma para dar voz àqueles que não podem ser ouvidos no Afeganistão", diz ela.
"Isso significa mais para mim do que sou capaz de expressar. Estou competindo por uma causa maior do que eu mesma. Estou aqui para lutar pelas mulheres afegãs e mostrar que, mesmo durante a guerra, somos fortes e não seremos silenciadas."
Como paralímpica que não tem o uso de um de seus braços, Khudadadi está ainda mais motivada a chamar a atenção para a situação das pessoas com deficiência que vivem sob o governo do Talibã.
"Não somos considerados humanos", ela explica. "Eles nos veem como menos do que isso. Quero demonstrar que, de muitas maneiras, as pessoas com deficiência são ainda mais fortes."
Representando mulheres em todo o mundo
Khudadadi não busca apenas representar as mulheres do Afeganistão. Ela admite que fazer parte da Equipe Olímpica de Refugiados também é uma parte significativa de sua motivação e mentalidade à medida que se aproximam os Jogos.
"Claro, é doloroso não competir sob a bandeira do Afeganistão, mas tenho orgulho de estar com a Equipe de Refugiados", diz Khudadadi.
"Atualmente, há mulheres sofrendo em todo o mundo. Isso não é apenas um problema no Afeganistão. Você pode ver isso em Gaza, no Sudão, na Ucrânia, onde as mulheres estão lutando. Fazer parte da Equipe de Refugiados me permite advogar pelas mulheres de todo o mundo."
No ano passado, segundo dados da ONU, um recorde de 117 milhões de pessoas foram deslocadas pelo conflito, resultando em condições extremamente desafiadoras para as mulheres em todo o mundo.
"Fazer parte da Equipe de Refugiados me permite falar por mulheres de todo o mundo", diz Khudadadi. "Algumas pessoas podem ver isso apenas como um esporte, mas para quem tem pouco, isso significa tudo. Quero mostrar ao mundo que os refugiados são fortes e que tudo o que precisamos é de uma oportunidade."
Preparações finais
Atualmente, Khudadadi está treinando intensamente sob o comando do treinador francês Haby Niare, se preparando para os Jogos como uma verdadeira candidata a medalha no evento de 47 kg K44.
Após ter conquistado a medalha de ouro no Campeonato Europeu de Para Taekwondo do ano passado, na cidade holandesa de Roterdã, ela tem o potencial de estabelecer outro recorde e se tornar a primeira medalhista paralímpica do Afeganistão.
Já uma defensora dos direitos das mulheres, um lugar no pódio sem dúvida a colocaria no mesmo nível de seu herói esportivo, Rohullah Nikpai, que conquistou as únicas medalhas olímpicas do Afeganistão até agora, ao ganhar bronze nas categorias de taekwondo masculino de 58 kg e 68 kg em 2008 e 2012.
Após o emocionante encerramento de um evento olímpico eletrizante, há uma preocupação de que a letargia do público possa diminuir o foco nos Jogos Paralímpicos que se aproximam.
Essa é uma preocupação que Khudadadi espera superar, fazendo sua declaração final antes da competição: "Estou prestes a compartilhar minha jornada com todos vocês, e vocês vão estar ouvindo, aconteça o que acontecer."
Apesar da distância de Cabul, os eventos no Afeganistão continuam sendo uma preocupação constante para Khuddadi durante sua preparação para os Jogos Paralímpicos de 2024, no esporte do taekwondo.
Participar dos Jogos Paralímpicos oferece a Khuddadi uma oportunidade de inspirar e provar que as mulheres afegãs são fortes e podem alcançar feitos notáveis, mesmo em circunstâncias desafiadoras.
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