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Vitória ou desastre?

Putin tenta deter o avanço ucraniano em direção a Kursk. No entanto, a área capturada pela Ucrânia continua a crescer. Os próximos dias são cruciais.

- Vitória ou desastre?

Em 6 de agosto, as forças ucranianas surpreendentemente penetraram no território russo, rumo à cidade de Kursk. Pequenos grupos móveis avançaram profundamente, ao contrário das anteriores investidas ucranianas na região de Belgorod.

Politicamente, essa incursão foi um sucesso para Kyiv. Humilhou Putin, trouxe a devastação da guerra para a Rússia e embaraçou o exército russo, que falhou em detectar a concentração de tropas ucranianas ou fortificar adequadamente a região de fronteira. Os soldados russos destacados lá foram incapazes de deter o avanço ucraniano, possibilitado pelas amplas lacunas entre os pontos fortes russos.

Segunda Fase da Operação Kursk

Após essa primeira fase, os russos começaram a reforçar para selar a brecha ucraniana. Nesse aspecto também, Kyiv alcançou um sucesso surpreendente, graças à negligência russa. Um comboio de reforços postou imagens de sua jornada até a frente. Com poucos possíveis caminhos, foi fácil determinar a rota. Quando o comboio parou, bem compactado, os ucranianos atacaram, incendiando mais de doze caminhões.

No entanto, os russos também estão lutando de volta. Os pequenos grupos de comando iniciais, escondidos em casas, eram difíceis de serem avistados. Isso não se aplica aos reforços. Para deter o avanço, os russos usaram até mesmo seus mísseis de longo alcance Iskander contra alvos de baixa prioridade.

Os reforços russos conseguiram bloquear temporariamente o avanço ucraniano rumo a Kursk, mais para dentro do território russo. Enquanto isso, os ucranianos também trouxeram mais unidades para a área da brecha. Ainda resta ver se essas tropas conseguirão superar as posições de bloqueio russas ou não. Até agora, a ofensiva ucraniana não ficou "atolada".

Luta Intensa por Cidade Pequena

No centro da luta está a pequena cidade de Sudja, na borda nordeste da brecha. Aqui, a natureza da luta na região de Kursk é diferente. A zona de Donbass está completamente fortificada, com posições que se apoiam mutuamente. Um surpreendente avanço é possível apenas em situações excepcionais. Em torno de Sudja, há zonas livres que permitem combate móvel. O destacamento russo lá resistiu na parte oriental da cidade, mesmo quando cercado. Os russos reforçaram, e os ucranianos tomaram o centro da cidade. Os russos estão se segurando na parte oriental, tendo estabilizado a situação, pelo menos temporariamente. Os ucranianos agora estão tentando cercar os russos pelos flancos e podem bem tomar a cidade inteira.

Ao norte da cidade, os ucranianos avançaram mais 40 quilômetros. Entre Levshinka e Sheptukhovka, os russos atacaram posições e tanques ucranianos com armas de longo alcance. A mesma imagem é vista mais a leste, perto da vila de Zhuravli.

Os ucranianos, assim, estão expandindo o território que capturaram. Ainda resta ver se eles conseguirão manter essas vilas agora que tropas russas estão chegando. Kyiv também está tentando atacar outras partes da frente para reforçar os flancos da brecha. No entanto, o elemento surpresa já se foi.

As linhas de frente e as batalhas são dinâmicas, e a região não é continuamente ocupada por tropas. Nos próximos dias, ainda são possíveis e esperadas grandes mudanças na frente, desde que novas tropas possam ser trazidas para a luta. Kyiv também é dito ter sido autorizado a usar armas ocidentais de longo alcance, como a Storm Shadow, na Rússia, o que também deve impulsionar a ofensiva de Kyiv e atrapalhar os esforços russos para gerenciar a crise.

Para que a Ofensiva de Kursk?

No entanto, os primeiros dias de euforia foram amenizados, apesar do elemento surpresa. Os problemas fundamentais das forças ucranianas persistiram: a Rússia tem mais soldados, mais tanques, mais artilharia e agora bombas guiadas. Consequentemente, os russos estão ficando cada vez mais fortes na área de Kursk. Os ucranianos só podem fornecer tropas frescas em uma medida limitada e por um tempo limitado para sustentar a ofensiva. Do lado de fora, é difícil julgar o sucesso ou o fracasso dos ucranianos porque o objetivo da operação é desconhecido. No fracassado verão de 2023, o objetivo era claro: romper até o mar e dividir os territórios ocupados pela Rússia em duas zonas.

Objetivos como capturar a cidade de Kursk ou até mesmo avançar mais rumo a Moscou são completamente impraticáveis, dada a limitação de tropas. Há especulações de que Kyiv quer ocupar a usina nuclear localizada perto de Kursk. Isso daria ao avanço um "ombro sólido", já que a Rússia não pode intervir com armas pesadas na zona em torno da usina. A usina e a zona capturada poderiam ser um importante trunfo em qualquer negociação futura. No entanto, as pontas de lança ucranianas ainda estão a cerca de 70 quilômetros da usina, com a altamente disputada cidade de Socha ainda mais longe.

O que vem a seguir

Quais são as opções? O cenário ideal para Kyiv seria superar os bloqueios russos e avançar mais para dentro do país, assim quebrando o primeiro esforço de contenção russo. No entanto, o problema então se torna que uma zona capturada maior requer mais tropas para mantê-la. Menos promissora seria se os russos conseguissem essencialmente deter o avanço. Nesse caso, Kyiv teria que passar para a defesa na zona capturada. Parece que posições já estão sendo cavadas para esse propósito.

No cenário ideal, os ucranianos poderiam defender os territórios capturados lentamente, fazendo com que Putin leve meses para restaurar a fronteira. No entanto, uma vitória parece diferente. Ao passar para a defesa, a Ucrânia perde a iniciativa, que então vai para o exército russo, que provavelmente recorrerá a um lento e sistemático esmagamento. A tragédia no Donbass se repetiria em Kursk. A terceira opção seria a rápida evacuação do território capturado. Nesse caso, Kyiv colheria os benefícios políticos do surpreendente sucesso e evitaria uma batalha custosa de retirada.

Apesar da atenção global estar voltada para a ofensiva de Kursk, a situação no leste continua a ensombrar os ganhos da Ucrânia. Kiev luta para manter suas linhas de frente, com posições sendo gradualmente perdidas. Não há uma maneira clara de deter esse processo no momento. As tropas destacadas em Kursk são muito necessárias aqui. O pior cenário para uma Ucrânia livre seria se a Rússia conseguisse cercar a saliência de Kursk e empurrar as forças ucranianas de volta para a fronteira usando seu poder de fogo, enquanto simultaneamente quebrava as últimas linhas defensivas fortemente fortificadas no Donbass.

Apesar do sucesso ucraniano em penetrar no território russo perto de Kursk, a atenção ainda está voltada para a frente oriental, onde a Ucrânia luta para manter suas posições.

Olhando para o futuro, o melhor cenário para Kiev seria reter o território capturado perto de Kursk, evitando uma batalha de retirada custosa e aproveitando os ganhos políticos da surpresa inicial.

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