Israel em território do Hamas: "Concentração na clandestinidade"
Do ponto de vista de Israel, tudo está a correr como planeado na guerra contra o Hamas islâmico na Faixa de Gaza. "Estamos à beira de destruir o sistema militar no norte da Faixa de Gaza. Ainda há algum trabalho a fazer, mas estamos no bom caminho", diz o chefe do Estado-Maior Herzi Halevi durante uma visita das tropas à faixa costeira de cerca de 40 quilómetros de comprimento - e anuncia que "cada vez mais regiões serão visadas". Os especialistas prevêem que, em breve, os combates poderão também ter lugar no terreno, no Sul.
Na cidade de Gaza, a norte, onde viviam centenas de milhares de pessoas antes da guerra, o Hamas parece já enfraquecido. Os soldados israelitas içaram manifestamente bandeiras israelitas na praia e fotografaram-se no edifício do parlamento.
Os militares comunicaram informações úteis para os serviços de informação, milhares de terroristas mortos e bastiões do Hamas capturados - incluindo hospitais com "centros de comando ocultos" dos terroristas. Mas estes êxitos podem ser apenas o início de uma longa campanha das tropas terrestres israelitas.
Especialista: sistema de túneis é crucial
A organização terrorista Hamas perdeu em grande parte o controlo à superfície no norte da Faixa de Gaza, "mas ainda há um longo caminho a percorrer para eliminar toda a sua capacidade militar", afirma Harel Chorev, especialista em Médio Oriente da Universidade de Telavive. Um fator decisivo é o extenso sistema de túneis do Hamas.
Milhares de combatentes podem estar entrincheirados na extensa rede de túneis. Estima-se que esta tenha cerca de 500 quilómetros de comprimento. É provável que muitos terroristas tenham fugido do norte para o sul, diz Chorev.
Esconder-se debaixo da terra
Mais de 300 poços de túneis e vários "locais subterrâneos" terão sido já destruídos pelos militares. "A nossa atenção especial está centrada no que está debaixo da terra", disse o porta-voz militar Daniel Hagari.
Há muitos métodos para destruir a estrutura dos túneis para além dos ataques aéreos, disse Orbach. "Podemos inundar os túneis com água do mar ou com águas residuais, por exemplo". Os militares também têm robots especiais que são enviados para os poços, alguns dos quais têm até 80 metros de profundidade. Também são utilizados cães.
O maior problema, no entanto, é a questão dos reféns. O exército acredita que pelo menos algumas das 240 pessoas raptadas pelos terroristas do Hamas em 7 de outubro se encontram nos túneis.
Não se sabe ao certo quantos membros do Hamas estão escondidos no subsolo. O historiador militar Danny Orbach, da Universidade Hebraica de Jerusalém, estima que sejam vários milhares. De acordo com o exército israelita, havia cerca de 30.000 combatentes do Hamas antes do início da guerra, a 7 de outubro. De acordo com as estimativas israelitas, mais de 4.000 foram mortos desde então. As fontes palestinianas ainda não forneceram qualquer informação sobre este assunto.
"Território do Hamas"
Orbach não prevê combates iminentes nos túneis. "As forças armadas israelitas só o consideram em casos individuais, quando não há outra opção", diz Orbach. Existe uma unidade especial treinada especialmente para esses casos. "No entanto, os combates nos túneis comportam um risco muito elevado." Não há GPS nos túneis, há pouca luz, os tiros podem fazer ricochete nas paredes e atingir os próprios soldados.
Para além disso, os túneis são território do Hamas. "Provavelmente, eles estão a preparar-se para este cenário há anos", diz Orbach. Segundo ele, os soldados israelitas já foram confrontados, à superfície, com armadilhas explosivas em portas, janelas e nas entradas dos túneis. "Isto pode tornar-se ainda mais extremo nos túneis". Na semana passada, quatro soldados de uma unidade especial foram mortos por um engenho explosivo num poço de túnel.
Ao mesmo tempo, os militares sabem que o Hamas não pode "ficar na clandestinidade indefinidamente". A comida e o combustível acabariam a dada altura. "Os túneis já não podem ser iluminados ou ventilados.
É difícil dizer se e quantos mantimentos podem ser contrabandeados para Gaza a partir do Egipto, através dos túneis, por exemplo. "Nesta altura, o contrabando é muito arriscado, mas provavelmente só é possível em pequenas quantidades", diz Orbach. "Se não tiverem já fugido para o Egipto através dos túneis".
Deslocar os combates para o Sul de Gaza?
Orbach e outros observadores também acreditam que é provável que os combates se desloquem para o sul da Faixa de Gaza. O objetivo dos militares israelitas é enfraquecer o Hamas de tal forma que este se desmorone por dentro, diz Orbach.
Para o conseguir, não é necessário matar todos os membros. No entanto, a organização terrorista tem de ser impedida de recuperar a sua força noutros locais - por exemplo, em Chan Junis, uma cidade no sul da faixa costeira.
Esta semana, os militares israelitas já lançaram panfletos em árabe sobre Chan Junis. As pessoas foram instruídas a deslocarem-se para a "zona de segurança conhecida". De acordo com os meios de comunicação social locais, o pânico instalou-se entre os habitantes dos bairros afectados.
De acordo com a ONU, quase 1,6 milhões dos cerca de 2,2 milhões de habitantes da zona costeira de 40 quilómetros de comprimento fugiram em consequência dos combates. A maior parte deles deslocou-se do norte para o sul. Mas também se registam ataques aéreos regulares. Uma eventual ofensiva terrestre poderia agravar a já devastadora situação de emergência humanitária.
Orbach não tem dúvidas de que uma operação terrestre também está iminente no sul. "Israel não quer que o Hamas se sinta demasiado confortável no sul", diz. De um modo geral, não se prevê que a guerra termine tão cedo. "A intensidade vai mudar, mas os combates podem continuar durante meses". Resta saber para onde se deslocarão.
Fontewww.dpa.com