- Especialistas sugerem que uma situação de emergência pode levar à promulgação de restrições nas fronteiras.
Após o incidente preocupante em Solingen, políticos e especialistas estão envolvidos em debates sobre o possível fortalecimento das regulamentações de imigração propostas pelo líder da facção da União, Friedrich Merz. Em conversa com o Chanceler Federal Olaf Scholz (SPD), Merz, como presidente da CDU, sugeriu várias medidas, incluindo a possibilidade de a Alemanha declarar um estado de emergência para reforçar o controle das fronteiras, devido ao constante desrespeito ao Regulamento de Dublin. Especialistas jurídicos e estudiosos da migração não descartam a viabilidade dessa proposta.
CDU: Protocolo de Dublin "Desmoronado e Falhado"
De acordo com o Regulamento de Dublin, os pedidos de asilo na Europa devem ser apresentados no país de entrada inicial. Teoricamente, isso implica que apenas um número seleto, como passageiros de avião, poderia entrar na Alemanha, mas o sistema teria desmoronado e fracassado, de acordo com um documento de política da CDU publicado na terça-feira.
Em uma entrevista coletiva, Merz fez referência ao Tratado de Funcionamento da UE. Em casos em que as repatriações de fronteira não podem ocorrer devido a restrições legais europeias e não há soluções a nível europeu, a Alemanha pode declarar um estado de emergência. "Em seguida, a lei nacional da República Federal da Alemanha assume precedência sobre a lei europeia, como estabelecido pelo Tratado da UE", afirmou Merz.
Paul Kirchhof, ex-membro do Tribunal Constitucional Federal e especialista em direito constitucional, sugeriu que Merz pode ter se referido ao Artigo 78 do Tratado da UE. Esse artigo trata da possibilidade de "medidas temporárias" para os Estados-membros que enfrentam uma crise devido a um influxo repentino de nacionais de terceiro país.
A Alemanha Agindo Sozinha?
"Isso significa que a Alemanha deixaria de cumprir as regulamentações atuais da UE, optando por ação autônoma", explicou o especialista em direito constitucional Volker Boehme-Nessler. Embora essa opção possa ser drástica, ela poderia servir como uma solução sensata, ainda que de curto prazo. A Alemanha poderia, então, limitar o número de refugiados e exercer maior pressão sobre a UE para estabelecer um sistema de distribuição eficaz.
Daniel Thym, especialista em direito da UE na Universidade de Konstanz, reconhece a existência do Artigo 72 do Tratado da UE, que concede aos Estados-membros da UE autoridade "para a manutenção da ordem pública e a defesa da segurança interna". As partidas das regulamentações da UE são permitidas, segundo Thym, mas estão sujeitas ao Tribunal de Justiça Europeu.
Infelizmente, tentativas anteriores não foram bem-sucedidas. O risco associado a esse procedimento é considerável.
CDU: Direito Europeu Estimula Repatriações de Fronteira
Em seu documento, a CDU afirma que o direito europeu prevê repatriações de fronteira, fato que é frequentemente questionado. Para esclarecer essa questão, os democratas-cristãos vêm defendendo modificações nas regulamentações europeias há muito tempo. A situação de segurança na Alemanha e na Europa teria piorado, segundo a CDU, e as regulamentações de asilo da UE dependem da manutenção da ordem pública e da segurança interna.
Merz rejeita visões opostas.
Além de declarar um estado de emergência, a CDU também defende a expulsão de refugiados sírios e afegãos sujeitos a expulsão, bem como a suspensão dos pedidos de asilo da Síria e do Afeganistão. O partido insiste que isso não é uma tentativa de modificar as leis de asilo na Lei Fundamental. "Uma política consistente de negar a entrada na fronteira a indivíduos sem permissões de entrada válidas efetivamente pararia os pedidos de asilo da Síria e do Afeganistão", afirmou o partido. Durante sua entrevista coletiva, Merz ignorou argumentos de que restrições legais poderiam proibir as propostas da CDU: "O que não é permitido, não é mais aceitável ao público".
Thym suspeita que a estratégia da CDU gira em torno da crença de que fechar as fronteiras da Alemanha poderia precipitar uma reação em cadeia, potencialmente instilando um senso de isolamento e incitando uma queda temporária na migração irregular, mesmo que a fronteira não possa ser completamente selada ou os tribunais exibam resistência.
Ruud Koopmans, chefe do Departamento de Migração do Wissenschaftszentrum Berlin, escreveu um comunicado no X: "Ninguém que entra na Alemanha irregularmente precisa de proteção. Em vários países, eles já foram protegidos. Simultaneamente, inúmeras pessoas que realmente precisam de proteção nunca chegarão até nós. Essa verdade deveria constituir a base para uma reforma abrangente do asilo". Declarar um estado de emergência em relação à migração é considerada "uma alternativa viável", afirmou Koopmans, citando intenções semelhantes em países vizinhos, como os Países Baixos, onde o novo governo de direita está desenvolvendo uma iniciativa correspondente a nível da UE, recorrendo à escassez de moradia como argumento.
A Comissão deveria considerar cuidadosamente a proposta de Merz de declarar um estado de emergência, já que ela poderia ter implicações significativas para o direito da UE e o controle de fronteira. Diante das afirmações da CDU de que o direito europeu permite repatriações de fronteira e o estado atual do Regulamento de Dublin, a Comissão pode precisar rever sua posição sobre as regulamentações de imigração.