Um acidente de avião de 1994 ameaça a investigação da tragédia do avião no Brasil
O voo 2283 da Voepass da última sexta-feira, saindo de Cascavel, perto da fronteira do Brasil com o Paraguai, para Guarulhos no estado de São Paulo, caiu após voar por uma área onde "congelamento severo" era previsto entre 12.000 e 21.000 pés, de acordo com um alerta público para pilotos.
O voo estava a 17.000 pés, de acordo com dados do FlightAware, quando os pilotos pareceram perder o controle.
Pelo menos dois especialistas com quem a CNN falou sugerem que a acumulação de gelo no avião pode ter desencadeado a série de eventos catastróficos da semana passada. "Todos os sinais preliminares apontam para um evento de congelamento", disse Peter Goelz, ex-diretor-gerente da National Transportation Safety Board, que revisou os dados iniciais de rastreamento do voo.
Vários vídeos postados nas redes sociais mostram o ATR 72 turboélice em uma aparente queda livre enquanto girava em direção ao solo sem movimento para a frente. Todos os 62 passageiros e a tripulação morreram quando o avião caiu perto de Vinhedo, tornando-se o pior desastre de um avião comercial em 2024.
O congelamento em voo pode "distorcer o fluxo de ar sobre a asa e prejudicar as qualidades de manuseio", de acordo com documentos da Federal Aviation Administration, fazendo com que o avião "role ou mergulhe incontrolavelmente, e a recuperação pode ser impossível".
"O congelamento é talvez a principal teoria", disse Bruce Landsberg, ex-coordenador da NTSB. "À medida que avançamos na investigação, as coisas começarão a se solidificar".
Um acidente em 1994
O ATR 72 franco-italiano tem "histórico manchado", disse Goelz. Em 31 de outubro de 1994, um ATR 72 caiu em Roselawn, Indiana; o voo American Eagle 4184 havia encontrado congelamento severo de garoa congelante.
Todos os 68 pessoas a bordo morreram.
Seguiram-se testes significativos após esse acidente, e a Federal Aviation Administration tornou obrigatória uma modificação no sistema de descongelamento na borda da asa do ATR 72, bem como mais treinamento para pilotos em encontros severos de gelo.
Hoje, e à luz do incidente da Voepass, Goelz diz: "Acho que a questão de saber se este avião é seguro no congelamento merece uma revisão séria".
Há cerca de 800 ATR 72s voando no mundo hoje, de acordo com Goelz. Mas não há nenhuma grande companhia aérea nos Estados Unidos que opere atualmente o ATR 72, o que significa que os viajantes nos EUA são pouco prováveis de encontrar um deles domesticamente, mas poderiam muito bem voar em um enquanto viajam pelo exterior.
O ATR 72 utiliza "botas" de descongelamento, projetadas para expandir e partir fisicamente o gelo que se acumula nas asas. Os aviões a jato geralmente usam ar quente dirigido dos motores para derreter o gelo nas asas, conhecido como ar sangrado.
"Os aviões turboélice não se saem tão bem quanto os aviões a jato em condições climáticas severas", disse Landsberg, que está escrevendo um livro sobre segurança aérea, incluindo o acidente de Roselawn. "Um jato provavelmente não estaria nessa altitude".
Após os relatórios do acidente da última sexta-feira, a ATR disse que estava ciente de um acidente e está trabalhando para apoiar os investigadores.
"Nossos primeiros pensamentos estão com todas as pessoas afetadas por esse evento. Os especialistas da ATR estão totalmente engajados para apoiar tanto a investigação quanto o cliente", disse a declaração.
Até que os investigadores do Brasil e da França comecem a mergulhar seriamente no acidente, a causa permanecerá um mistério, diz Landsberg. "A segurança da aviação não se presta a respostas rápidas".
O acidente do voo 2283 da Voepass serve como um lembrete dos potenciais perigos do congelamento nas Américas, já que eventos de congelamento severo levaram a acidentes catastróficos no passado, como o incidente de 1994 com um ATR 72 em Roselawn, Indiana.
Apesar das medidas tomadas após o acidente de 1994, incluindo modificações nos sistemas de descongelamento e mais treinamento para pilotos, o mundo continua a ver incidentes envolvendo o ATR 72 em condições de congelamento, destacando a necessidade de avaliações de segurança contínuas.