Salamandras, aranhas e vermes - oh meu Deus! Os cientistas dizem que os emojis da natureza não são suficientemente diversificados

Ficetola faz muita investigação sobre salamandras. Mas sem emojis de salamandra disponíveis, é difícil enviar uma mensagem rápida aos seus colegas quando está ocupado.

Ficetola apercebeu-se de que não estava sozinho durante a conferência sobre ecologia, quando um especialista em fungos aquáticos lamentou a falta de um ícone digital para o organismo microscópico.

Assim, Ficetola e o seu colega, Stefano Mammola, começaram a trabalhar num levantamento exaustivo dos ícones de animais e da natureza na Emojipedia, a biblioteca global de emojis amplamente reconhecida internacionalmente. Os seus esforços incluíam descobrir a quantidade de ícones que representam a "árvore da vida" da Terra - uma metáfora e um modelo que agrupa entidades vivas e mapeia as suas relações evolutivas.

A sua investigação, publicada na segunda-feira na revista iScience, põe em evidência aquilo a que chamaram um preconceito na investigação sobre a biodiversidade.

O estudo concluiu que os animais estão mais bem representados na Emojipedia do que as plantas, os fungos e outros organismos.

Embora os humanos tendam a ter mais empatia pelos seres vivos que lhes são mais próximos, os resultados foram preocupantes, disse Ficetola. Com as pessoas constantemente ligadas aos seus telemóveis, dizem os cientistas, garantir a biodiversidade de emojis de animais e organismos ajuda a criar consciência sobre espécies desconhecidas - e esforços para as salvar.

"A comunicação é o primeiro passo. Se as pessoas souberem que os organismos existem, começam a apreciá-los. E é muito mais fácil comunicar a importância de os conservar", afirmou Ficetola, professor de ciências e políticas ambientais na Universidade de Milão.

"Nós, enquanto investigadores ou pessoas que trabalham com a biodiversidade animal, utilizamos frequentemente emojis nas nossas comunicações. E quando nos apercebemos que muitos animais não estão (na biblioteca de emojis), começámos a perguntar: o que é que está a faltar ou porque é que está a faltar? Ficetola disse à CNN. "Isto era importante para ajudar na comunicação sobre a biodiversidade".

Uma análise dos emojis revela uma tendência para a biodiversidade

Após uma conversa com o especialista em fungos aquáticos, Mammola disse que ele e Ficetola decidiram efetuar uma análise quantitativa dos emojis.

O tema pode parecer "um pouco aleatório", mas os resultados foram reveladores, disse Mammola, investigador em ecologia e biologia subterrânea no Conselho Nacional de Investigação italiano.

Ficetola, Mammola e um terceiro colega, o investigador da Universidade de Milão Mattia Falaschi, estudaram os ícones que representam plantas, animais e a natureza na Emojipedia.

Descobriram que os emojis representam 112 organismos distintos, incluindo 92 animais, 16 plantas e um "fungo parecido com um cogumelo". Mas muito poucos dos emojis apresentavam animais marinhos, apesar de 70% do planeta ser o mar, disse Ficetola.

O estudo mostrou que os animais e os vertebrados estão sobre-representados, enquanto as plantas, os fungos, os microorganismos e os artrópodes, como as aranhas e os escorpiões, estão sub-representados. Algumas espécies como as estrelas-do-mar, os ursos de água - pequenos animais aquáticos também conhecidos como tardígrados - e os vermes planos foram completamente ignorados.

Ficetola disse que há uma suposição de que os fungos não são tão importantes, mas eles desempenham um papel crucial no solo. "A vida no planeta depende dos fungos", afirmou.

A falta de atenção tem um efeito em cascata, dizem os cientistas

Não é surpreendente que os grandes mamíferos, como macacos, gatos e cães, estejam bem representados nos emojis.

"Há uma tendência humana para ser mais empática e consciente dos organismos próximos de nós, por exemplo, os vertebrados, com a consciência a diminuir em proporção inversa à distância evolutiva de um grupo em relação ao Homo sapiens", observaram os investigadores no estudo.

A abundância de emojis de animais e a escassez de emojis de plantas, fungos e microrganismos influencia a consciencialização da sociedade e a atribuição de prioridade às espécies.

"Esse zoocentrismo na conservação da biodiversidade está a levar a uma atenção e financiamento desiguais para plantas e fungos em comparação com os animais, apesar dos serviços ecossistémicos fundamentais prestados por esses organismos", observou o estudo.

Mesmo entre os emojis de animais, houve um desequilíbrio. Os vertebrados, incluindo mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes, representavam 76% dos taxa de emojis de animais disponíveis.

Com apenas 16%, os artrópodes eram o segundo organismo mais representado na biblioteca de emojis, apesar de serem o grupo mais biodiverso da árvore da vida, de acordo com o estudo.

Mas mesmo com as deficiências na diversidade de emojis, o estudo destacou uma nota positiva: o número de emojis de animais e da natureza mais do que duplicou nos últimos oito anos, com um total atual de 214 disponíveis na Emojipedia.

Os co-autores esperam que o estudo sirva de lição para mostrar que a biodiversidade dos emojis é mais do que apenas leões, macacos e pandas.

Ficetola disse que ainda não contactaram o subcomité Unicode Emoji, que determina quais os emojis que devem ser adicionados. Mas espera que o estudo leve as pessoas a repensar a comunicação sobre a biodiversidade na era digital e a árvore da vida dos emojis. Segundo ele, o comité utiliza critérios rigorosos baseados na popularidade e no interesse.

No seu sítio Web, o subcomité afirma que analisa as propostas de novos emojis e toma decisões com base em vários factores, incluindo o nível de utilização, a compatibilidade com as plataformas de redes sociais existentes e o carácter distintivo.

Mas se pudesse escolher dois emojis para adicionar imediatamente, Ficetola disse que escolheria a estrela-do-mar e o tardígrado.

O seu colega, Mammola, disse que a sua escolha seria fungos ou musgo. "É um grupo que é muito popular, mas não existe", disse ele sobre o último, uma planta não vascular sem flores da família das briófitas.

Os emojis podem parecer uma forma mundana de comunicação, dizem os cientistas, mas a sua simplicidade e imediatismo são importantes para documentar a biodiversidade e os esforços de conservação, uma vez que alguns animais se extinguem e desaparecem da memória colectiva.

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