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Os venezuelanos já viram este filme antes, mas Maduro deve ter cuidado.

A oposição sabe que venceu e o regime sabe que venceu, diz um especialista. A pergunta agora pode ser esta: por quanto tempo a coalizão governista conseguirá se manter?

CARACAS, VENEZUELA - 30 DE JULHO DE 2024: Auxiliares exibem registros de votos e acenam com...
CARACAS, VENEZUELA - 30 DE JULHO DE 2024: Auxiliares exibem registros de votos e acenam com bandeiras durante um protesto contra o resultado das eleições presidenciais. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi declarado como vencedor da eleição presidencial de 2024 contra seu rival, Edmundo González. O resultado foi questionado pela oposição e internacionalmente. De acordo com a líder da oposição, María Corina Machado, o resultado anunciado pelo 'Consejo Nacional Electoral' (CNE) não reflete a decisão tomada pelos venezuelanos durante a eleição.

Os venezuelanos já viram este filme antes, mas Maduro deve ter cuidado.

Aquele dia ensolarado, enquanto nossa equipe da CNN caminhava em direção ao prédio que abriga a Assembleia Nacional para entrevistas, notamos um grupo de homens seguindo o mesmo caminho do lado oposto da rua.

“Apressem-se!”, disse a correspondente do CNN en español em Caracas, Osmary Hernández. “Acho que os coletivos estão mais adiante na rua.” Aceleramos o passo e suspiramos aliviados ao chegarmos ao prédio. Os coletivos são grupos armados que funcionam como uma gangue de rua, mas estão intimamente ligados ao governo socialista e frequentemente realizam trabalho sujo.

Momentos depois de termos entrado no prédio, Julio Borges, membro da oposição na assembleia e seu ex-presidente, chegou em más condições. Ele tinha um nariz sangrando e disse que um grupo de legisladores da oposição, como ele, havia sido atacado por coletivos enquanto se dirigiam à sede da autoridade eleitoral nacional. Um mês antes, o presidente Nicolás Maduro havia declarado um “estado de emergência constitucional”.

Mesmo antes desse período tumultuado, havia ficado claro que o governo de Maduro tinha controle absoluto sobre os três poderes e o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

E, como acabáramos de testemunhar, também controlava as ruas de Caracas. Maduro, agora com 61 anos, é um ex-motorista de ônibus que se tornou líder do sindicato do metrô de Caracas e subiu na hierarquia. Ele é o sucessor escolhido pelo falecido ditador Hugo Chávez, que governou a Venezuela de 1999 até sua morte em 2013.

Uma nova onda de violência abalou a Venezuela novamente em 2019. Em janeiro daquele ano, Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional, havia se proclamado presidente interino da Venezuela. O então-35 anos Guaidó argumentou que tinha o direito constitucional à presidência como líder da assembleia, pois Maduro, que havia sido empossado apenas alguns dias antes, era um presidente ilegítimo.

Tanto a oposição quanto os líderes de vários países da região haviam considerado as eleições do ano anterior uma farsa. Guaidó convenceu 50 países de que tinha o direito de ser presidente, inclusive os Estados Unidos.

Em junho de 2019, quando retornei a Caracas, Guaidó já havia tentado um levante militar que quase deu certo em 30 de abril, seguido por semanas de conflitos violentos entre manifestantes e forças de segurança que deixaram dezenas de mortos.

O mundo começou a prestar atenção à Venezuela novamente nos últimos meses, à medida que o país se preparava para realizar novas eleições presidenciais. Maduro permitiria que a oposição apresentasse um candidato de sua escolha? Seria uma eleição livre, justa e transparente? Os coletivos seriam usados novamente para intimidar eleitores, como já haviam feito em eleições anteriores?

Julio Borges, em uma fotografia tirada por Rafael Romo da CNN em 9 de junho de 2016

As primeiras duas perguntas foram respondidas em janeiro, quando a líder da oposição María Corina Machado foi impedida pelo tribunal mais alto da Venezuela de concorrer à presidência (ou qualquer outro cargo eleito) por 15 anos devido a supostas irregularidades financeiras. Machado havia recebido mais de 90% dos votos nas primárias da oposição em outubro. Ela atraía grandes multidões para onde quer que fosse, embora o governo tenha feito tudo o que podia para impedi-la, inclusive perseguindo aqueles que alugavam sistemas de som para sua campanha.

A terceira pergunta foi respondida nas últimas horas da eleição no domingo, quando os coletivos apareceram em pelo menos um centro de votação em Caracas e começaram a agredir simpatizantes da oposição que haviam sido convidados pela liderança para vigiar as urnas e evitar fraudes.

Aqueles de nós que vêm acompanhando a Venezuela há décadas já vimos esse filme antes: uma “farsa” eleitoral para justificar a permanência de Maduro no poder. A democracia vem enfraquecendo na Venezuela há 25 anos desde que o carismático líder socialista Chávez chegou ao poder em 1999.

Enquanto os venezuelanos e o mundo aguardavam os resultados na noite de domingo, a autoridade eleitoral do país adiou a publicação, alegando que o sistema havia sido alvo de hackers operando na Macedônia do Norte, sem apresentar nenhuma prova. Isso não surpreendeu em um país onde os três poderes estão nas mãos de leais ao governo, centenas de líderes da oposição estão presos e a democracia verdadeira não existe há uma geração.

“Há algo diferente dessa vez?”, essa foi a pergunta que fiz a Michael Shifter, ex-presidente do Diálogo Interamericano e atual professor de Política Latino-Americana na Universidade de Georgetown, que vem acompanhando a política venezuelana há décadas.

Shifter disse que a vitória de Maduro foi uma “fraude flagrante, maciça e escandalosa”, mas a oposição conseguiu fazer algo que não havia sido capaz de fazer antes: se unir atrás de um candidato único e ir às urnas em grande número.

“A alternativa [a participar da eleição] era se excluir completamente do jogo político, dizendo ‘recusamos participar dessa eleição injusta e desonesta’, mas isso teria deixado a oposição em uma posição mais fraca em termos práticos e políticos”, como aconteceu em 2018 quando a oposição decidiu boicotar o processo inteiro.

“Acho que a oposição aprendeu que recusar-se a participar das eleições não ajudava sua causa. Eles reconheceram que, mesmo quando as eleições não eram livres e justas, eles precisavam defeating Maduro em seus termos, o que eles fizeram”, disse Shifter.

FIQUEIRA - Apoiadores do líder da oposição venezuelana e autoproclamado presidente interino Juan Guaido brigam com membros da Polícia Nacional Bolivariana enquanto tentavam bloquear uma avenida principal durante um protesto contra o governo do presidente Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela, em 18 de novembro de 2019.

O CNE da Venezuela declarou Maduro como vencedor na segunda-feira, dizendo que ele havia obtido 51,2% dos votos, com 80% das urnas apuradas. Seu principal rival, o candidato da oposição Edmundo González, havia obtido 44,2% dos votos, de acordo com o órgão.

Críticos como o ex-presidente da Bolívia, Jorge Fernando “Tuto” Quiroga, que foi um dos vários ex-líderes mundiais impedidos de voar para a Venezuela pelo governo, chamaram o governo de Maduro de "regime desesperado; uma tirania aberta, pura e dura que escolheu roubar a presidência com uma coroação fraudulenta". Em entrevista à CNN, ele disse que mesmo a matemática não batia quando as autoridades eleitorais venezuelanas declararam um vencedor com 80% dos votos apurados.

"Quando você está no primeiro ano, aprende que 20 é mais que sete", disse Quiroga. "A probabilidade de [o candidato presidencial da oposição] Edmundo [González] ter vencido era baixa, mas ainda aritmeticamente possível", disse ele na época, acrescentando que antes das eleições havia pesquisas de saída confiáveis mostrando que González estava à frente por até 40 por cento.

Assim como em 2016 e 2019, a violência voltou ao Venezuela. Pelo menos 11 pessoas morreram durante protestos na Venezuela na segunda-feira, de acordo com a organização não governamental Foro Penal nas redes sociais. As autoridades venezuelanas dizem que mais de 700 pessoas foram detidas nos protestos. O partido político de oposição Voluntad Popular disse na terça-feira que seu líder, Freddy Superlano, havia sido sequestrado.

Diferente da eleição de 2018, diz Shifter, desta vez a oposição "sabe que venceu, e o regime sabe que venceu". A questão agora é quanto tempo a coalizão governante, que inclui não apenas os socialistas, mas também as forças armadas, poderá aguentar, disse Shifter.

Se essa coalizão se tornar "dividida e mais fraca, as forças armadas podem dizer 'este navio está afundando e não queremos ir para o fundo com ele'", disse Shifter.

A comunidade internacional está de olho na situação política da Venezuela, dada sua influência nas Américas e no mundo. Muitos países questionaram a legitimidade das eleições venezuelanas, citando preocupações com a falta de justiça e transparência.

Apesar da fiscalização internacional, o governo venezuelano continua a manter o controle, com Maduro e seus aliados ocupando posições-chave em todos os três poderes e no Conselho Nacional Eleitoral.

CARACAS, VENEZUELA - 16 DE NOVEMBRO: O líder da oposição Juan Guaidó, reconhecido por muitos membros da comunidade internacional como o legítimo governante interino do país, cumprimenta apoiadores na frente da Embaixada da Bolívia durante um comício intitulado 'Desperta, Venezuela' para aumentar a pressão sobre o presidente Nicolás Maduro para renunciar em 16 de novembro de 2019 em Caracas, Venezuela. Ontem, um grupo armado não identificado vestindo uniformes militares invadiu a sede do partido Voluntad Popular de Juan Guaidó. O chamado de Guaidó para novas protestos Happened as the political turmoil affected countries across the region, forcing leaders into concessions and even contributing to the resignation of Evo Morales under pressure. Guaidó está disposto a trazer nova energia à medida que cresce a frustração após a incapacidade de remover Maduro do poder.

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