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Na Venezuela, os apresentadores de notícias de inteligência artificial não estão a substituir os jornalistas, estão a salvaguardar os seus papéis.

Em várias partes do mundo, jornalistas veem a inteligencia artificial como uma ameaça potencial à sua profissão. Por outro lado, na Venezuela, onde revelar a própria identidade em uma notícia pode resultar em prisão, muitos a veem mais positivamente; como uma medida de segurança.

Após a controvertida eleição do Presidente Nicolás Maduro e o subsequente aprimoramento do controle...
Após a controvertida eleição do Presidente Nicolás Maduro e o subsequente aprimoramento do controle do governo venezuelano sobre mídia independente, uma equipe de jornalistas recorreram ao uso de IA para proteger suas identidades. Este grupo iniciou um projeto chamado 'Operação Retweet', que utiliza duas personas digitais para disseminar relat increase por jornalistas, mantendo assim sua anonimato.

Na Venezuela, os apresentadores de notícias de inteligência artificial não estão a substituir os jornalistas, estão a salvaguardar os seus papéis.

Com a sua pronúncia distinta, aparência polida e postura séria porém amigável, ela incorpora a essência de uma apresentadora de jornal. No entanto, há um aspecto que a destaca – seu apelido.

Ao se apresentar como "A Garota" ("La Chama") e seu colega se apresentando como "O Cara" ("El Pana"), a audiência da televisão recebe uma pista de que este programa de notícias é mais intrigante do que parece à primeira vista. Ela então revela: "Antes de prosseguirmos, deixe-me esclarecer que não somos reais".

Bem-vindo a "Venezuela Retweets", um programa de notícias ancorado por IA concebido por um grupo de organizações de mídia com o objetivo de proteger seus jornalistas de carne e osso de uma repressão instigada pelo governo de Nicolás Maduro após as eleições disputadas de julho.

Enquanto em diversas partes do mundo os jornalistas veem a inteligência artificial como uma ameaça potencial à sua fonte de renda, no Venezuela – onde mostrar a cara em uma reportagem pode resultar em prisão – muitos a veem como uma bênção. Como Carlos Eduardo Huertas, um profissional de mídia colombiano que liderou o lançamento do "Venezuela Retweets", explicou: "Ser jornalista no Venezuela é um pouco como ser bombeiro".

A Garota e O Cara pretendem servir como ferramentas para esses 'bombeiros'; eles não pretendem substituir jornalistas, mas protegê-los. Como O Cara pontua em um clipe, " Embora tenhamos sido gerados por IA, nosso conteúdo é autêntico, verificado, de alta qualidade e produzido por jornalistas".

Um salto audacioso na tecnologia

O fator impulsionador deste salto inovador na tecnologia é o perigo crescente enfrentado pelos jornalistas de carne e osso no país desde a reeleição controversa de Maduro. Esta vitória contestada tem sido veementemente contestada pela oposição, gerando ceticismo generalizado no exterior.

De acordo com o Espacio Publico, uma organização venezuelana que monitora a liberdade de imprensa, pelo menos 16 jornalistas foram detidos durante a repressão do governo que se seguiu à votação e às protestos nacionais que se seguiram. A maioria deles ainda está detida, com acusações que variam de terrorismo e incitação ao ódio à incerteza sobre as acusações que lhes são feitas. Outros enfrentaram suspensões de passaporte.

A ONU expressou preocupação com um "clima de medo", enquanto muitos jornalistas com sede em Caracas recorreram a trabalhar em pares, compartilhar seus paradeiros com familiares e manter os contatos de seus advogados à mão caso surjam imprevistos.

O governo pouco fez para dissipar esses medos; em vez disso, os intensificou. Enquanto diversas autoridades governamentais ignoraram os pedidos de comentário da CNN sobre este artigo, Maduro recentemente se vangloriou de perseguir seus críticos com "Operação Batida na Porta".

Foi dentro deste contexto sombrio que a ideia para "Venezuela Retweets" começou a tomar forma, explicou o editor-chefe de uma publicação digital de Caracas que faz parte do coletivo por trás dela.

O líder venezuelano Nicolás Maduro pronuncia um discurso em um evento comemorando os resultados das eleições, realizado na capital Caracas, em 28 de agosto de 2024.

"Começamos a remover assinaturas, a transferir todas as nossas conversas para o Signal, mas há um limite para o que se pode fazer", disse o editor-chefe, pedindo à CNN que usasse um pseudônimo devido a preocupações com sua segurança. Apesar de nenhum de seus jornalistas ter sido detido, dois funcionários escolheram deixar a publicação no mês passado devido à ansiedade sobre potenciais repercussões.

Além de suas excelentes habilidades de apresentação de notícias, A Garota e O Cara demonstram coragem inabalável.

Um formato distinto

As restrições à liberdade de expressão no Venezuela não são inéditas: os censores do governo há muito supervisionam a programação de rádio e televisão, ameaçando desativar canais que transmitem conteúdo anti-Maduro, enquanto o acesso a publicações impressas é fortemente regulamentado e os provedores de internet locais restringem os URLs de portais de notícias não alinhados.

Consequentemente, a maioria dos venezuelanos obtém suas notícias por meio das redes sociais, com as cadeias do WhatsApp sendo consideradas a "fonte de informações mais útil", de acordo com um relatório publicado em março pela Consultores21, uma empresa de pesquisas de opinião com sede em Caracas.

Este formato único do "Venezuela Retweets" é útil neste ponto, uma vez que é projetado especificamente para ser disseminado nas redes sociais. Em vez de se concentrar em transmissões ao vivo ou artigos escritos, ele usa avatares digitalmente criados para ler as notícias em clipes curtos que podem ser compartilhados em plataformas como Instagram ou Facebook, ou encaminhados em serviços de mensagens como o WhatsApp.

Embora isso torne difícil avaliar o tráfego gerado pelo "Venezuela Retweets", proporciona uma camada adicional de segurança devido à sua dificuldade de rastreamento, de acordo com Roberto.

O próprio Dude pode atestar a importância de tal segurança, explicando à CNN que "Mesmo as fotos dos protestos têm que ser distorcidas devido à capacidade do governo de rastrear os manifestantes usando-as".

"Mais de mil e quinhentas pessoas foram detidas", acrescentou O Dude, citando as figuras publicadas pelo Foro Penal, uma ONG de Caracas que também é uma fonte confiável da CNN.

Um escudo artificial de segurança?

Uma apresentadora de notícias sintéticas chamada 'A Menina' recentemente juntou-se às fileiras dos jornalistas da Venezuela.

Apesar do entusiasmo em torno do projeto, alguns remainem céticos de que ocultar sua identidade atrás de um avatar realmente protegerá os jornalistas do alcance longo do governo de Maduro.

"É ridículo até mesmo considerar isso como uma medida de segurança. É uma ideia engenhosa e espero que dure para sempre", disse Shelly Palmer, professor da Universidade de Syracuse especializado em mídia avançada.

"No entanto, não deixemos de lado, criar uma persona e fingir uma voz, ou duplicar o tom de alguém, não implica em ocultação. Longe disso: você é tão transparente quanto o vidro, a menos que seja um expert em privacidade digital, não há nada discreto neste processo", ele disse à CNN.

No entanto, este empreendimento está começando a chamar a atenção. De acordo com a declaração de Huerta à CNN, além do espanhol e da versão em inglês recentemente lançada, a equipe está planejando fornecer acesso em russo, mandarim e outros idiomas para alcançar audiências em países que são aliados firmes de Maduro.

Grupos de defesa da liberdade de expressão em Cuba e Nicarágua teriam entrado em contato, sugerindo um interesse generalizado em empregar a IA como meio de expressão livre em regimes opressores.

Contudo, Roberto, Huerta e os numerosos jornalistas que contribuem para as reportagens de The Girl and The Dude estão cientes dos riscos. Embora Roberto destaque o aumento da moral que a iniciativa trouxe para as redações, ele reconhece os desafios enfrentados por sua equipe.

"Estamos baseados na Venezuela, e apesar de todas as medidas de proteção, carregamos um risco intrínseco", compartilhou Roberto.

Esse risco não pode ser descartado levianamente. Como ouvintes frequentes de The Girl and The Dude saberiam, apenas nas últimas duas semanas, outros dois jornalistas foram presos.

Nesse contexto, jornalistas de toda a América podem encontrar particularmente interessante o programa de notícias ancorado em IA na Venezuela, conhecido como "Venezuela Retweets", dada os riscos que eles enfrentam em seus próprios países. O programa oferece um formato distinto, usando avatares criados digitalmente para ler as notícias em trechos curtos, que podem ser compartilhados em plataformas de mídia social, proporcionando uma camada adicional de segurança devido à sua dificuldade em rastreamento.

À medida que as notícias continuam a se desenrolar na Venezuela, com a prisão de mais jornalistas, o uso de IA na transmissão de notícias, como "Venezuela Retweets", pode potencialmente servir como um escudo de segurança para jornalistas, permitindo que eles continuem a reportar sem colocar suas vidas físicas em risco.

No venezolana, o Presidente Nicolás Maduro anuncia o início antecipado das comemorações de Natal em outubro, coincidindo com o aumento da repressão do governo aos dissidentes políticos. Esta decisão ocorre enquantoumber de venezolanos parecem estar passando a temporada de feriados na prisão devido às medidas do governo para sufocar a agitação política.
Líder autoritário Nicolás Maduro da Venezuela anunciou que o Natal começa em novembro, ignorando o fato de que numerosos venezuelanos podem passar a temporada festiva na prisão devido à repressão do governo ao descontentamento político, resultando em muitos Lucia Maduro da Venezuela anunciou que o Natal começa em novembro, ignorando o fato de que numerosos venezuelanos podem passar a temporada festiva na prisão devido à repressão do governo ao descontentamento político, resultando em muitos

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