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Asisat Oshoala: como a crença de uma avó deu origem a uma superestrela do futebol africano

Asisat Oshoala, avançada do FC Barcelona e da Nigéria, fez história no início deste ano ao tornar-se a primeira africana a conquistar a Liga dos Campeões feminina. O seu rol de distinções individuais e colectivas é um símbolo da sua ascensão no futebol - muito longe das suas origens humildes.

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Asisat Oshoala: como a crença de uma avó deu origem a uma superestrela do futebol africano

A avançada do Barcelona, nascida na cidade nigeriana de Ikorodu, inclina-se para o microfone e diz: "Enquanto crescia, nunca usei uma camisola com o nome de uma jogadora nas costas".

Depois, o momento de epifania em que a vida se torna um círculo completo para ela.

"Agora, quando vou à Nigéria, muitas pessoas têm uma camisola do Barcelona com o meu nome", diz Oshoala, de 26 anos, à CNN.

Ela faz uma pausa, reflecte e respira fundo.

"Bem... tem sido uma viagem e tanto", acrescenta com um sorriso conhecedor.

É um sorriso que diz tudo o que é preciso saber sobre a sua afirmação de crença e o poder da oportunidade.

Sorriso vencedor: A ascensão de Oshaoala ao topo é a história do triunfo sobre a adversidade

O espírito de uma africana

Para além de saber como fazer uma piada, Oshoala fá-lo com honestidade, paixão e humildade.

"Independentemente da altura a que chegamos na vida, temos de nos lembrar sempre de onde viemos", diz ela.

O seu passado é também um mecanismo de ligação à terra num mundo globalizado e em constante mudança. É uma identidade - o "espírito de um africano", como ela diz - em que a "velha vibração" ainda é verdadeira.

"Sempre fomos um povo que luta por tudo e está pronto a sacrificar-se", continua Oshoala.

Quando era criança, os papéis de género estavam claramente definidos - o lugar de uma rapariga era em casa ou na loja.

Oshoala fala abertamente sobre o facto de viver numa sociedade muçulmana e num lar poligâmico com sete irmãos e seis irmãs das duas mulheres do seu pai.

"Há uma unidade na minha família. Não estamos divididos [...] Somos de mães diferentes, mas continuamos juntos [...] Vemo-nos como iguais", diz ela.

Muçulmana praticante, Oshoala vê o Islão como "uma orientação para a vida".

"Se isto [jogar futebol] é o que me faz feliz, não acho que Deus seja contra".

A crença de uma avó

O futebol era uma fonte de escapismo, mas também um desafio ao estabelecimento do patronato e do parentesco.

Oshoala lembra-se de se esconder e inventar histórias para explicar horas prolongadas de ausência, embora as suas acções tivessem consequências.

"Às vezes, não consigo dormir em casa [...] Há dias em que a minha mãe nem sequer me dava dinheiro para comer."

Quem acreditava então na possibilidade de uma oportunidade no futebol?

"A minha avó", responde Oshoala.

Quando os outros duvidavam das suas capacidades e aptidões para o jogo, era a avó de Oshoala que pregava com sabedoria e calma para "ser uma pessoa boa e simpática, ser respeitosa, [e] ser disciplinada".

Essas ideias e crenças estão na vanguarda da mente de Oshoala sempre que entra em campo.

Sensação de golos: Oshoala ganhou a Bota de Ouro no Campeonato do Mundo Feminino Sub-20 da FIFA 2014 com sete golos marcados

Em 2014, a sorte estava lançada.

O título de artilheira e jogadora do torneio na Copa do Mundo Feminina Sub-20 da FIFA foi seguido, poucos meses depois, pela conquista do Campeonato Africano Feminino.

A conversa com os pais, céticos, foi decisiva.

"Fiz com que eles acreditassem que, se os jovens correm atrás dos seus sonhos, há sempre algo de positivo a sair deles. Hoje, acho que eles percebem isso".

E hoje em dia, os seus pais são crentes.

"Agora são eles que me telefonam [...] Eles sabem o meu jogo mesmo antes de eu lhes dizer!", ri-se.

A luz que brilha em África

Oshoala nunca olhou para trás desde que deixou a Nigéria em 2015.

A sua carreira atravessou continentes - da Europa, com o Liverpool e o Arsenal, à Ásia, com o Dalian, antes de regressar à Europa, com o FC Barcelona.

"Sei que posso sobreviver em qualquer lugar", diz ela com desafio. "Para que o espírito de aceitação ganhe vida, tem de passar pelo nosso próprio trabalho árduo e pelo nosso próprio sacrifício."

Esses sacrifícios deram origem ao sucesso, com múltiplas distinções individuais e de equipa conquistadas a nível nacional e internacional.

A realeza do futebol: A nigeriana recebeu o seu terceiro prémio de Futebolista Africana do Ano nos Prémios CAF 2017, com Mohamed Salah (à direita), do Liverpool e do Egipto, a receber o prémio masculino

O rol de honras inclui um recorde de quatro títulos de Jogadora Africana de Futebol Feminino do Ano, mais duas vitórias na Copa das Nações Africanas e duas participações na Copa do Mundo Feminina da FIFA.

Essas conquistas fazem dela a jogadora de futebol mais condecorada da história do continente.

"É incrível", diz Oshoala, fazendo uma pausa para refletir sobre a grandiosidade das suas conquistas.

"Nunca tive o sonho de me tornar uma jogadora de futebol profissional [...] e, olhando para onde estou hoje, fico muito feliz pelo que fiz por mim mesma até agora.

"O espírito de querer sempre mais, o espírito de não desistir é uma coisa que me motiva muito."

Linha na areia

Talvez, no entanto, os dois acontecimentos mais significativos em campo para Oshoala tenham ocorrido nos últimos dois anos com o gigante catalão.

Em 2019, ela se tornou a primeira africana a jogar e marcar um gol na final da Liga dos Campeões Feminina, vencida pelo Lyon.

Ela diz que foi um momento de orgulho, mas igualmente marcado pela dor.

Em maio, porém, veio a redenção.

Fazendo história: Oshoala comemora o facto de o Barcelona ter esmagado o Chelsea por 4-0 e ter ganho a Liga dos Campeões Feminina

A jogadora de 26 anos entrou para a história ao se tornar a primeira africana a conquistar o título mais cobiçado do futebol europeu, com o Barcelona derrotando o Chelsea por 4 a 0.

"Quando se tem o mesmo objetivo, é fácil alcançar grandes feitos. As pessoas que perderam juntas acabaram por ganhar juntas, isso é importante", afirma Oshoala

A dinâmica continuou a um ritmo incessante e não dá sinais de abrandar.

Nesta temporada, o Barcelona tem uma média notável de sete gols por jogo no campeonato, com Oshoala marcando um gol a cada partida - um claro sinal de intenção enquanto o time se prepara para defender o tão cobiçado título.

Será que o Barcelona conseguirá seguir os passos do Lyon e se tornar a nova potência da Europa?

"O Barcelona pode ser apenas o Barcelona! responde Oshoala com ênfase.

"Temos um objetivo que queremos alcançar, que já começamos no ano passado: ganhamos a tríplice coroa. Isso é incrível!

As pessoas querem algo novo

É esse projeto de superação, ousadia e crença que Oshoala agora aspira a entregar para uma nova geração de meninas - uma geração que imagina o futebol e a educação coexistindo lado a lado.

O veículo para a mudança é a sua fundação na Nigéria.

"Às vezes, sento-me na linha lateral e começo a sorrir. Vejo-os felizes e fico contente por ver os sonhos das pessoas a tornarem-se realidade - estão a ver o futuro.

"Estão a ver a possibilidade de se tornarem jogadores de futebol profissionais.

"Tenho muita inveja [...] porque eles têm tudo!"

Ao refletir sobre a sua carreira, Oshoala tem também uma palavra de aviso para o futebol masculino.

"Nos próximos cinco, 10, 15 anos, tudo vai ser sobre futebol feminino, porque o futebol masculino... é como se eles já tivessem tudo.

"Já se vêem as lutas. Eles querem a Superliga, querem isto... estão a tentar ver o que podem trazer agora, porque já fizeram tudo.

"O dinheiro está lá, os direitos televisivos estão lá, está tudo lá.

"O que quer que se faça agora com o futebol feminino, é novo, é novo, é novo. E as pessoas querem ver algo novo."

A crença é genuína ou baseada na esperança?

"O futebol feminino vai ser grande", afirma Oshoala.

"Definitivamente, haverá um jogador masculino e uma jogadora feminina no mesmo nível, mais ou menos [...] É muito possível. Acreditem em mim".

Não vale a pena apostar contra isso.

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Fonte: edition.cnn.com

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